quarta-feira, 7 de março de 2012

Uma questão de mão

Aqui há dias quando entrevistei a Filipa Vacondeus, ela garantiu-me que cozinha todos os dias “para não perder a mão” e gostei disso, dessa consciência do trabalho diário e continuo, para além de um patamar de sucesso já alcançado. Ontem, numa visita guiada à exposição de Paula Rego (que vou falar mais à frente), fiquei a saber que a pintora, talvez a mais conceituada pintora portuguesa da actualidade, obriga-se a trabalhar, mesmo quando a inspiração tarda em chegar. Contava a Catarina, a excelente guia que nos acompanhou na visita, que o marido de Paula Rego lhe costumava dizer: “fecha 12 macacos numa sala com uma máquina de escrever e vais ver que ao fim de algumas horas escrevem Shakespeare”, para lhe mostrar que se ela não se meter à frente das telas, com ou sem inspiração, se não se der ao trabalho, o trabalho não aparece feito. A verdade é que a pintora tem um tríptico dedicado a essa temática, dos macacos e da máquina de escrever, e é um trabalho belíssimo, aliás à semelhança de todas as suas colecções. Isto para defender uma ideia que tenho há muito que as pessoas até podem ter talento, muito talento, sorte, muita sorte, mas acima de tudo trabalham. Apostam no trabalho. Investem no trabalho. Dão-se ao trabalho. Eu acredito que na vida conta muito o factor sorte, mas acima de tudo acredito que tudo passa pelo empenho, pelo trabalho. Acredito e vou continuar a acreditar e, obviamente, a trabalhar. Tudo é uma questão de treino, de mão, de investimento, de trabalho. E quanto mais eu escrevo, mais vontade tenho de escrever. Escrever mais e escrever melhor.

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